Como se originam ruídos e poeiras nas indústrias de cimento?
O processo de fabricação do cimento é feito através da exploração das matérias-primas de uma pedreira, as quais devem conter, em determinadas proporções, calcário, argila, minério de ferro e gesso.
Ao extrair a pedra, habitualmente através de explosivos, procura-se obter blocos com dimensão inferior a 0,5 m3 (meio metro cúbico).
Em seguida, passa por um britador para obter um material com dimensão inferior a 90 mm. Nesse processo, procura-se atingir uma mistura de materiais extraídos próxima da composição química desejada.
Britagem (Fonte: http://www.secil.pt)
 
Após as fases de exploração da pedreira e britagem do material, ocorre uma moagem, denominada “moagem de cru”. A sua função é reduzir as matérias a uma finura elevada e fazer as correções químicas necessárias à composição pretendida.
Após a moagem de cru vem a operação de cozedura, através da qual surge, por reações químicas complexas, um produto granulado denominado clínquer.
A etapa seguinte é a moagem de cimento, alimentada com clínquer (95%) e gesso (5%), onde se procura uma finura em função da classe de resistência pretendida para o cimento. Por último vem a ensilagem, a embalagem e a expedição. Em resumo, o processo de produção do cimento é caracterizado por fases com índices elevados de ruído e poeiras, que podem afetar de maneira prejudicial o trabalhador sem proteção adequada.
 
De onde surgem os gases poluentes da produção de cimento?
A produção de cimento consome muito combustível. Geralmente utiliza-se uma combinação de diversos produtos como óleo, coque de petróleo e resíduos industriais. Cerca de 7% das emissões de CO2 (gás carbônico) no planeta são decorrentes da produção de cimento, devido à combustão e ao processo de descarbonatação da matéria-prima.
Em outras condições, este tipo de combustível poderia emitir altas concentrações de substâncias extremamente tóxicas (tais como dioxinas e furanos) devido à queima incompleta. Por outro lado, o calcário e a cal, contidos na mistura, possuem a característica de reagir com o enxofre proveniente dos combustíveis, evitando maiores emissões de óxidos de enxofre na atmosfera e prevenindo, por exemplo, a ocorrência de chuva ácida.
 
O cimento pode causar mal à saúde do consumidor?
Sim, o cimento pode causar alergia em algumas pessoas, as chamadas “dermatites", assim como alguns problemas respiratórios, tanto aos usuários quanto às pessoas que vivem perto das fábricas de cimento.
Recomenda-se que o contato direto com a pele seja evitado, através do uso de equipamentos de proteção individual (luvas, máscaras, botas). Quando for inevitável ou acidental deve-se evitar o contato prolongado, realizando-se a limpeza com auxílio de água e sabão.
No caso do aparecimento de reação alérgica bem como ingestão ou inalação, deve-se afastar a pessoa do contato com o cimento e procurar auxílio médico.
Tanto a fiscalização vigente como a população e, também as pessoas que trabalham, direta ou indiretamente, com o cimento (fábricas, comércio e construções), devem estar atentas ao lidar com o cimento portland, oriundo de unidades que queimam resíduos em fornos de clínquer, pois podem estar lidando com um cimento fora dos padrões de qualidade ambiental esperados, face à possibilidade de incorporação dos contaminantes dos resíduos à matriz cimento ao considerar as cinzas dos combustíveis alternativos.
 
Como a queima de resíduos durante a fabricação pode contaminar o cimento?
As fábricas de cimento no passado utilizavam óleo combustível, carvão mineral e/ou vegetal para suprir suas necessidades energéticas. A partir da década 80 e 90, visando à redução de combustíveis fósseis e o incentivo ao uso de combustíveis alternativos, houve uma intensificação no uso de resíduos orgânicos renováveis (bagaço de cana, palha de arroz). Entretanto, esta indústria deve estar atenta quanto à toxicidade e a possível contaminação ambiental e humana, pois dependendo da origem deste combustível alternativo os riscos ambientais aumentam e também comprometem a qualidade do cimento produzido.
A aplicação de uma Educação Ambiental adequada significa esclarecer e alertar para a possibilidade de contaminações, seja de cimentos nacionais ou importados, provenientes das rotas de fabricação, muitas das vezes desconhecidas, onde os combustíveis alternativos podem ser fontes permanentes não declaradas de contaminações ambientais e do próprio cimento produzido.
 
Qual é o impacto ambiental da produção de cimento? 
A indústria de cimento apresenta elevado potencial poluidor. Em todas as etapas do processo há acentuadas fontes de poluição.
Os níveis e as características das emissões dos poluentes dependem das características tecnológicas e operacionais do processo industrial, em especial:
  • Dos fornos rotativos de clínquer;
  • Da composição química e mineralógica das matérias-primas;
  • Da composição química dos combustíveis empregados;
  • Da marcha operacional dos fornos de clínquer;
  • Da eficiência dos sistemas de controle de emissão de poluentes instalados.
Quais são os poluentes primários emitidos no processo de fabricação de cimento?
  • Material particulado;
  • Dióxido de carbono;
  • Óxidos e enxofre;
  • Óxidos de nitrogênio.
Segundo o órgão ambiental norte-americano, a fabricação de cimento está entre as maiores fontes de emissão de poluentes atmosféricos perigosos, dos quais se destacam:
  • As dioxinas e furanos;
  • Os metais tóxicos como mercúrio, chumbo, cádmio, arsênio, antimônio e cromo;
  • Os produtos de combustão incompleta;
  • Os ácidos halogenados.
Os metais pesados contidos nas matérias-primas e combustíveis, mesmo em concentrações muito pequenas, devido a sua volatilidade e ao comportamento físico-químico de seus compostos, podem ser emitidos na forma de particulado ou de vapor através das chaminés das fábricas
 
Que medidas são adotadas no controle da poluição das fábricas de cimento?
Para o controle da poluição gerada na fabricação de cimento foram estabelecidos padrões de emissão para material particulado, metais pesados, cloretos, monóxido de carbono, dioxinas e furanos.
De forma geral, o material particulado proveniente dos fornos, moinhos e resfriador de clínquer são direcionados para chaminés e retidos em coletores com ciclone, filtros de manga e precipitadores eletrostáticos.
As medidas de controle para a redução da emissão de poeiras fugitivas nas áreas de mineração e na área industrial são o abatimento dos particulados por aspersão de água e o enclausuramento das áreas de estocagem e beneficiamento de materiais, com a instalação de sistemas exaustores e de filtros coletores de pós, além da pavimentação e da varrição das vias de circulação de veículos.
Na maioria das plantas de clinquerização (fabricação do Clínquer), entretanto, não são instalados equipamentos para o controle da emissão de gases de combustão, vapores de sais metálicos ou outras substâncias perigosas originadas no processo de clinquerização.
 
Onde se manifestam os riscos da fabricação do cimento?
É fonte de risco todo o circuito do processo de fabricação de cimento a:
  • Mineração e o beneficiamento do calcário;
  • Homogeneização e moagem das matérias-primas;
  • Fabricação do clínquer;
  • Moagem, ensacamento e expedição do cimento.
Nesta rota há emissão de material particulado, constituído por:
  • Matérias-primas;
  • Clínquer e cimento;
  • De vapores de sais metálicos;
  • De gases formados no processo de combustão;
  • Além das emissões fugitivas geradas em vários pontos da planta industrial.
A propagação do risco continua com o próprio uso final do cimento.
 
Que riscos estão associados ao uso e às etapas de fabricação do cimento?
De forma sintética, podem-se associar os riscos às seguintes etapas da cadeia de fabricação e uso do cimento:
1ª. Geração, manipulação, embalagem e transporte do resíduo, da fonte geradora até a porta da fábrica de cimento ou para a unidade de preparação de blends (Brends: Combustíveis utilizados em todo plano de queima de cada forno, para cada ciclo produtivo);
2ª. Preparação dos resíduos e blends;
3ª. Fabricação e despacho do cimento;
4ª. Utilização do cimento.
Na etapa de geração e transporte do resíduoda fonte geradora até a entrada do material no forno, por exemplo, há riscos de acidentes com vazamento ou derramamento de materiais perigosos; há riscos de emissão de substâncias voláteis, quando presentes na massa do resíduo, ou de poeiras geradas nas eventuais operações de pré-tratamento (moagem e mistura). Se o resíduo é inflamável, há risco de incêndio e explosão, com formação de nuvens de poluentes atmosféricos perigosos. Os cenários das consequências prováveis serão contaminação do solo e das águas, poluição do ar, danos à fauna e à flora, intoxicação de trabalhadores e de populações.
Nesta etapa, há participação direta de trabalhadores na realização das atividades, de onde se conclui: as pessoas envolvidas (motoristas ou seus ajudantes) ou se encontram na indústria geradora do resíduo ou dentro das fábricas de cimento (planta cimenteira), mas todas elas estão sujeitas aos riscos de contaminação pela exposição às substâncias perigosas do resíduo, seus vapores e particulados, e, portanto, ao desenvolvimento de doenças ocupacionais.
 
Quais são os projetos existentes para minimizar os riscos das indústrias de cimento?
A sustentabilidade das atividades econômicas tem-se mostrado um dos principais desafios enfrentados pela humanidade neste século. A indústria de cimento vem participando de projetos voltados ao uso racional dos recursos naturais ou à recuperação do meio ambiente. Essas ações visam, basicamente, satisfazer necessidades técnicas e sócio-econômicas, porém sem comprometer a qualidade de vida da população atual ou das futuras gerações, a saber:
  • Aperfeiçoamento do processo produtivo;
  • Maior eficiência na alimentação de forno;
  • Automação de ensacadeira;
  • Instalação de novos filtros,
  • Cuidados no manuseio de combustíveis (exemplo: coque de petróleo) e matérias-primas;
  • Modernização do processo de paletização e dos silos de cimento;
  • Redução do consumo de matérias-primas e de energia;
  • Reaproveitamento de resíduos de outros setores;
  • Silo fechado para clínquer;
  • Sistemas de despoeiramento e de controle ambiental;
  • Sistema interno de avaliação e de gestão ambiental;
  • Urbanização do parque industrial;
  • Certificação ISO 14001;
  • Manual de instrução sobre segurança e saúde no manuseio de cimento Portland (Fispq);
  • Criação e manutenção de unidades de conservação, de reservas ecológicas e de reservas particulares do patrimônio natural (RPPN);
  • Levantamento de flora e fauna;
  • Manutenção da biodiversidade;
  • Produção e doação de mudas de espécies nativas;
  • Projetos de reflorestamento, proteção do patrimônio espeleológico (cavernas);
  • Mapeamento hidrológico e proteção dos recursos hídricos;
  • Conservação do solo;
  • Obras de drenagem;
  • Construção de cortina vegetal antirruído: As áreas florestadas ao redor das minas ajudam a diminuir as emissões de ruído para a vizinhança, pois as matas funcionam como uma cortina vegetal.
Que iniciativas são efetivamente apresentadas pelas indústrias de cimento para um desenvolvimento sustentável do setor
Na condição de braço técnico da indústria do cimento, a ABCP (Associação Brasileira do Cimento Portland) vem pesquisando soluções que permitam melhorar e proteger o meio ambiente em todos os níveis operacionais das fábricas.
O papel da indústria do cimento, como grande alternativa ambiental para a disposição de resíduos, vem sendo reconhecido, através da participação em grupos de trabalho com agências ambientais, em nível federal e estadual, no processo de normalização do uso de resíduos industriais pela indústria do cimento.
A responsabilidade ambiental e social levou esta entidade a ser convidada a integrar, como membro-colaborador, o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), entidade formada por mais de 170 companhias internacionais, entre elas 10 dos maiores grupos de cimento mundiais. Esse grupo, cuja missão foi definir ferramentas para o desenvolvimento sustentável do setor para os próximos 20 anos, lançou em 1999, no âmbito do WBCSD, a Iniciativa para a Sustentabilidade do Cimento (CSI), um plano de ação para:
  • Avaliar o que o desenvolvimento sustentável significa para estas dez empresas e para a indústria cimenteira;
  • Identificar e promover ações, que possam ser tomadas pelas empresas, individualmente ou em grupo, e que acelerem o processo de desenvolvimento sustentável;
  • Criar uma estrutura operacional que permita capacitar outras empresas do setor;
  • Criar uma estrutura operacional que estimule o envolvimento de “stakeholders” (pessoas envolvidas no projeto e interessados nos resultados da empresa como empregados, fornecedores, compradores, etc.)
Que referências legais podem ser sugeridas para atividades em indústrias cimenteiras?
  • NR-9: Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA  
  • Constituição Brasileira, em seu Artigo 225, que dispõe sobre a proteção ao meio ambiente;
  • Lei 6.938/81, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente;
  • Lei 6.803/80, que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição.
Em 1998 foi aprovada a Lei de Crimes Ambientais, a qual estabelece pesadas sanções para os responsáveis pela disposição inadequada de resíduos.
 
Processo de produção do Cimento:
FONTE: http://www.secil.pt
 
 
Veja mais sobre este assunto:
Iniciativa para a Sustentabilidade do Cimento
http://www.abcp.org.br/desenvolvimento/arquivos_pdf/Agenda_CSI.pdf
 
Queima de pneus inservíveis em fornos de clínquer
http://www.uff.br/engevista/1_10Engevista4.pdf
 
A co-incineração de resíduos em fornos de cimento: riscos para a saúde e o meio ambiente
http://www.abrasco.org.br/cienciaesaudecoletiva/artigos/artigo_int.php?id_artigo=1482

Artigos Populares

;