Michel Llory fala sobre metodologia para a análise de riscos e de acidentes |
Conversar com os trabalhadores é fundamental para analisar os
riscos e prevenir acidentes. Essa foi uma das lições deixadas pelo
engenheiro e ergonomista francês Michel Llory, durante o 30° Encontro
Presencial do Fórum de Acidentes de Trabalho, realizado no CTN da
Fundacentro, em 27 de junho.
Em uma de suas pesquisas, Llory realizou testes com operadores da
Electricité de France (EDF) em simuladores de ação em escala plena
(equipamento para realizar testes com trabalhadores). Para tanto,
escolheu uma situação de um acidente real, e passou os dados aos
trabalhadores, a fim de avaliar quais procedimentos seriam realizados.
Quase todos erraram e repetiram a ação do acidente.
“Ao longo dos testes, ficou cada vez mais evidente como era
fundamental conversar com os operadores, por meio de entrevistas”, disse
Michel Llory. “Nós compreendemos que os acidentes se iniciam muito
antes da ocorrência real, e tem a ver com decisões muitas vezes tomadas
longe do local do acidente. Na análise organizacional, é importante sair
da sala de comando e procurar os inícios das respostas do acidente.”
Llory também pôde perceber que o trabalho desenvolvido ia muito
além do prescrito e observou os saberes de ofício e os de prudência dos
trabalhadores. Os saberes de ofício abrangem o saber fazer, a
competência para produzir o trabalho. Já os saberes de prudência são
aqueles voltados para a cautela e a prevenção de acidentes e perdas no
sistema. “É preciso estimular a comunicação horizontal e o saber
operário”, ressalta o engenheiro francês.
A abordagem investigativa de Llory leva em consideração o que as
pessoas falam sobre o trabalho, sem se esquecer de olhar para todos os
documentos e registros escritos. Mistura uma investigação causal e
objetiva com uma abordagem mais subjetiva, ligada às impressões dos
operadores sobre o que se passou. Também analisa os acidentes e
incidentes prévios.
O pesquisador costuma utilizar entrevistas coletivas, por
considerá-las importantes para conseguir uma representação das condições
de segurança de uma empresa. O grupo formado deve ser homogêneo, com
operadores do mesmo nível hierárquico. “Precisamos partir do pressuposto
que eles conhecem a organização muito melhor do que nós. Eles fazem
diagnósticos e análises”, explica Llory.
A participação de Michel Llory durante o 30° Encontro Presencial do
Fórum de Acidentes de Trabalho mobilizou a realização de quatro
encontros considerados muito produtivos. “O Llory consegue expressar a
necessidade de revisão das práticas de segurança”, avalia o professor da
Faculdade de Saúde Pública da USP, Rodolfo Vilela. “É necessário fazer
uma análise crítica e uma revisão das formas tradicionais, para enxergar
os pontos obscuros e os antecedentes dos acidentes. Ele reforça esse
alerta que o Fórum busca trazer”.
Fonte: Fundacentro
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