O câncer ocupacional é decorrente de quais fatores?
O câncer ocupacional decorre da exposição a agentes químicos, físicos ou biológicos classificados como carcinogênicos (potencial para câncer) presentes no ambiente de trabalho. A exposição a substâncias carcinogênicas é reconhecidamente maior nos ambientes de trabalho, e muitas destas foram assim classificadas a partir de estudos epidemiológicos realizados com populações trabalhadoras.
Tipicamente considerada como uma doença do mundo desenvolvido e industrializado, o câncer tem sido visto como um problema crescente nos países considerados em desenvolvimento. Muitos processos de trabalho existentes nos países desenvolvidos são também encontrados nos países considerados ainda em desenvolvimento, com o agravante de que nestes, a proteção à saúde dos trabalhadores e o cumprimento das leis vigentes ocorrem precariamente.
 
A industrialização é a única “culpada” do câncer ocupacional?
A ocorrência do câncer ocupacional, reconhecido há mais de dois séculos por Percival Pott, em 1775, deve ser vista não como um simples efeito de exposições específicas ou simplesmente como decorrente da industrialização, mas como um processo que decorre da associação e interação entre a exposição ocupacional a agentes químicos e a vulnerabilidade das populações expostas, por exemplo, quanto à carência alimentar e à ocorrência de doenças infecto-contagiosas.
É provável que a exposição ambiental/ocupacional a agentes químicos de uma forma geral esteja contribuindo também para o adoecimento da população, sem que uma relação entre causa e efeito seja estabelecida. A difusão de substâncias químicas não ocorre exclusivamente através das conhecidas formas de poluição.
 
O que é um potencial carcinogênico ocupacional?
Para a Occupational Safety and Health Administration (Administração em Saúde e Segurança Ocupacional) qualquer substância, combinação ou mistura de substâncias que causam um aumento da incidência de câncer ou uma substancial diminuição do período de latência (diferença de tempo entre o início de uma doença e o momento em que seus efeitos tornam-se perceptíveis), é considerada como de potencial carcinogênico ocupacional.
 
Qual a incidência do câncer devido á exposição ocupacional?
De acordo com estimativas e estudos de instituições norte-americanas, a proporção de câncer devido á ocupação pode variar de 20 a 25% do total da mortalidade por câncer. Essa proporção vai depender também do efeito interativo com vários outros agentes cancerígenos como o tabagismo, álcool, drogas, alimentação e poluição ambiental.
 
Qual é a legislação específica do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sobre os agentes  carcinogênicos e que tipos de substâncias ele reconhece?
A portaria Nº 777/GM de 28 de abril de 2004 dispõe sobre os procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de serviços de saúde do sistema Único de Saúde – SUS. O Ministério do Trabalho e Emprego reconhece 5 substâncias como agentes carcinogênicos, sendo elas: benzeno, aminodifenil, benzidina, beta-naftilamina e 4_ nitrodifenil. Porém, o benzeno pode causar intoxicação aguda e crônica . É um agente mielotóxico regular (agente que destrói a medula óssea) e cancerígeno.
 
Após exposição ao benzeno sem uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI),o que pode acontecer aos trabalhadores expostos ?
Pode desencadear toxicidade ao benzeno caracterizado pelo comprometimento da medula óssea, sendo a causa básica de diversas alterações no sangue. Os órgãos como, por exemplo, a medula óssea, são muito sensíveis ao benzeno e este malefício tem sido usado como base para a construção da regulamentação deste composto.
 
Como realizar um controle sobre os casos de câncer ocupacional no Brasil?
Existe um protocolo do Ministério da Saúde que tem como objetivo principal subsidiar o SUS através de ações de assistência, cuja etiologia (é o estudo das causas) está relacionada ao benzeno. Este protocolo é específico nas questões de diagnóstico e tratamento da leucemia mielóide aguda (é uma forma de leucemia caracterizada pela proliferação de células) e síndromes mielodisplásicas (são doenças do sangue que resultam em insuficiência medular progressiva e evolução para câncer leucêmico)decorrentes da exposição ao benzeno e derivados.
 
Existe um sistema de vigilância e notificação?
Sim. A notificação tem por objetivo o registro dos casos de benzenismo. Sendo confirmado o diagnóstico de benzenismo, a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) deve ser acionada, mesmo nos casos que não acarrete incapacidade laborativa, para fins de registro e não necessariamente para o afastamento do trabalho.
Portanto, é de fundamental importância ter sistema de vigilância destes agravos que cumpra dois objetivos principais:
  • Identificação e controle dos ambientes de trabalho onde existe potencial de exposição a agentes carcinogênicos;
  • Sistematização de informações necessárias à realização de estudos epidemiológicos.
Deve-se investigar os pacientes expostos ao benzeno e/ou seus derivados, com risco comprovado e que apresentem no hemograma anemia e/ou leucopenia (redução de leucócitos no sangue) e trombocitopenia (redução de plaquetas no sangue), sem outra causa aparente, com ou sem presença de macrocitose(aumento do tamanho das hemácias, componente do sangue). O achado de células cancerígenas no sangue indicam a possibilidade de desenvolvimento de um quadro leucêmico. Deve-de então notificar esse tipo de caso.
 
Quais ações de saúde pública têm ajudado na prevenção do câncer?
As ações de saúde pública que visam à prevenção do câncer são voltadas primariamente para situações que são consideradas evitáveis, ou seja: medidas de proteção coletiva (cabines com monitoramento biológico, purificadores de ar e outros adotadas no processo de trabalho, minimizando ou extinguindo o agente) e medidas de proteção individual (máscaras, capacete, luvas, botas, óculos de proteção, que contribuem decididamente na prevenção da intoxicação. A avaliação quantitativa do nível de benzeno no ar e a análise do Índice Biológico de Exposição (IBE) em grupos homogêneos de risco de exposição são ferramentas importantes quando se objetiva o controle da exposição.
 
Quais tipos de indústrias estão mais sujeitas à exposição ao benzeno?
São as refinarias de petróleo, siderúrgicas e indústrias químicas de borracha, tintas e vernizes, além de radiações ionizantes, solventes a alguns pesticidas.
 
Quais os principais tipos de câncer ocupacionais?
Entre os tipos de câncer ocupacionais, os de maior incidência são: câncer leucêmico; câncer de pulmão; câncer de pele; câncer de bexiga; câncer no fígado; câncer de fossas nasais.
 
Qual o tipo de câncer predominante em exposição ao benzeno?
O câncer leucêmico, também chamado de leucemia mielóide, é o principal câncer relacionado à exposição ao benzeno. Ele afeta o sistema formador de sangue do corpo, incluindo o sistema linfático e a medula óssea. O câncer leucêmico é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos) de origem, na maioria das vezes, devido à exposição ao benzeno. Ela tem como principal característica o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea que substituem as células sanguíneas normais.
 
Quais os sintomas do câncer leucêmico?
Os principais sintomas da leucemia decorrem do acúmulo das células jovens anormais na medula óssea, prejudicando ou impedindo a produção dos glóbulos vermelhos (causando anemia), dos glóbulos brancos (causando infecções) e das plaquetas (causando hemorragias). Depois de instalada, a doença progride rapidamente, exigindo com isso que o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico e a classificação da leucemia.
 
Como é o tratamento da leucemia mielóide?
O tratamento é realizado com base em quimioterapias e transfusões sanguíneas, sendo que a intensidade e o período da quimioterapia variam de acordo com cada caso. Quanto antes descobrir o câncer, menor é a intensidade do tratamento e os efeitos colaterais. As transfusões de hemácias (glóbulos vermelhos do sangue) têm a função de tratar a anemia causada pela quimioterapia.

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